quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

AMIGO(S) DA ONÇA

“Dois caçadores dividem uma barraca. Um deles pergunta: - E se aparecesse uma onça agora? - Eu dava um tiro nela. - E se você estivesse sem arma? - Eu usava o facão. - E se você estivesse sem facão? - Eu subia numa árvore. - E se não tivesse árvore? - Eu corria. - E se você estivesse paralisado de medo? - Pô, você é meu amigo ou amigo da onça?” Piada da década de quarenta, quando o cartunista Péricles criou o garçom que ele chamou de “Amigo da Onça”. O final de 2008 e o ano de 2009 foram anos marcados por “amigos” assim. Pessoas que fizeram parte de minha vida por um longo e intenso período, compartilhando alegrias, tristezas, confidências, almoços, jantares, praia, cinema,trabalho, etc., e que um belo dia resolveram – digamos assim – “puxar meu tapete” de uma só vez. E os exemplos variaram: não só quem trabalhou comigo anos a fio e a relação ultrapassou o coleguismo profissional, se expandindo para o pessoal com marido, filhos, viagens em comum, mas também aqueles a quem você acredita serem seu “melhor amigo”. O mais interessante é que TODOS, após algum tempo, me procuraram COMO SE NADA HOUVESSE... Quem me conhece e mora no lado esquerdo do meu peito, sabe que não consigo ser hipócrita, puxa-saco ou qualquer sinônimo desses. Certa vez num processo terapêutico, ao narrar um sonho que tive, a interpretação do profissional foi a seguinte: “ Você não guarda rancor, raiva, não perde tempo; quando você decide matar alguém em seu coração, simplesmente essa pessoa morre como se fosse vida real.” De fato, é assim que sinto. Só que nesses exemplos, a “morte” em meu coração foi bastante dolorosa. Foi carregada de decepção, de anos de convívio e histórias, de sentimentos onde me senti “usada”. Sim, só acontece isso se nós deixamos, mas acreditei piamente que essas pessoas eram A-MI-GAS. A dor se espalhou como diz a música “no corpo, na alma e no coração”. Decepção profunda. Agora, quase no finalzinho do ano, época em que muitos se tornam “crianças boazinhas” para não serem esquecidas pelo Papai Noel, é redundante dizer que a hipocrisia impera. Fujo de reuniões, almoços, jantares, encontros, sejam eles familiares ou não, onde “amigos da onça” estejam. Tapinha nas costas nunca me disse nada e agora, menos ainda. Desenvolvi um “filtro invisível”, quase uma ressonância magnética, para manter uma boa distância de pessoas assim. Vi de perto o lado B daqueles que eu tanto prezava. E não gostei. Nas previsões do começo de 2009, falaram em transformações profundas. De fato, elas aconteceram (acontecem ainda). Já substituí o choro pela razão. Melhor assim, nesse caso. Pássaros de penas iguais voam juntos. E eu me livrei das hienas que me espreitavam... O melhor da história? Pude perceber quem sempre esteve ao meu lado, mesmo à distância. E por anos a fio, em alguns casos. Valorizo cada minuto que tenho com esses, verdadeiros amigos. Pessoas erram? Claro, somos humanos. Mas se fazerem de desentendidos, fingir que nada aconteceu, isso é demais pra minha confiança. E cruel com meu coração. Não amo as pessoas na medida do meu interesse e sim – e somente – pelo que elas são no melhor estilo gente e pelo que trocamos juntas. Nunca mais isso acontecer é quase improvável, mas como dessa vez os cortes foram profundos e as cicatrizes demoraram a fechar, ouso dizer que aprendi mais uma lição de “não-relacionamento”. Triste, mas real. Encerro o ano de alma liberta e em paz total com minha consciência. E isso não tem preço.

2 comentários:

Cris Medeiros disse...

Em 2008 eu fiz muitos posts como esse seu... Foram muitas decepções e elas continuam...

Eu tenho uma tendência a que as pessoas me usem nas horas difíceis e me descartem logo depois, pra voltar novamente na próxima dificuldade... Me doeu perceber isso!

Já em 2009 eu simplesmente eliminei da minha vida os tais amigos da onça... Fiquei com poucos amigos que nem sempre podem estar por perto... A solidão bateu forte, mas pelo menos eu não fico mais fingindo que tenho um monte de amigos só pra me usarem... Passei a conviver com minha solidão na boa, esperando que novas pessoas que valham realmente à pena entrem na minha vida!

Beijocas

Luciana disse...

Querida Carla!!!!!!!
Que saudades enormes de vc... E vc, sábia como sempre - e não por isso sem coração - me fez relembrar a frase que falou tanto nas nossas conversas "Pássaros de penas iguais voam juntos".
Que bom que se libertou! E isso mesmo, gente, sem hipocrisia.
Eu convivo com a hipocrisia, cara amiga. Sim, porque vc é uma amiga do coração e sei que sabe disso. E sabe também como é duro ter que engolir a hipocrisia. Mas pelo menos as amizades, posso escolher.
Um lindo 2010 para você, de pleno voo, voo de saúde, paz, amor, sucesso, prosperidade e verdade!
Carinho,
Lu

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