quarta-feira, 22 de abril de 2009

ENTÃO TCHAU!!!

Pediu outro chopp. Sentado ali, pensava em alguns fatos recentes de sua vida e via como eles se ligavam lá atrás, ao passado, quando digamos, tudo havia começado. Um pensamento havia se transformado em idéia fixa: por que insistira tanto numa coisa que seu coração dizia que não era pra ele? Sabia que isso não era um privilégio só dele, muitos de seus amigos comentavam a mesma coisa vez ou outra, afinal quem já não entrou em alguma “roubada”? Mas existem momentos na vida de cada um que parece que nos tornamos surdos em relação a nossa própria sabedoria, intuição ou chame você do que quiser. Ele sabia que era o que havia acontecido. Se distanciara de muitas coisas para se aproximar dela. Conhecera através de um grupo de amigos e quem os apresentou era alguém que ele muito respeitava. Mas, no primeiro aperto de mão sentiu um nó no peito, como se ela já tivesse feito parte de seu passado. Mas que passado se nunca havia posto os olhos naquela mulher? Foram se encontrando mais amiúde, festas, bares, almoços, jantares, sempre com a turma de amigos. Até que esta foi dando espaço a uma relação única, só dos dois. Não se largavam mais. Primeiro erro. Sexo da melhor qualidade. Erro dois, cegueira total. Tesão existe sem amor, ele sabia disso. Agora. Ela aproveitou dele o máximo que pode. Sim, aproveitou – dizia ele a si mesmo. Mais experiente, dava a ela tudo o que sabia. E ela se lambuzava em toda sua história de vida. Com o tempo ela foi ficando mais ousada, queria mais e mais ele não estava disposto a dar. Gostava de morar só, de ter suas coisas, seus horários malucos, ser de alguma forma livre. E isso mulher nenhuma havia de lhe tirar. Ela se divertia com aquele modo de ser e do alto de sua onipotência, julgava que mais dia menos dia ele seria seu, inteiro. Nisso ela igualzinho as outras: achava que podia modificá-lo. Ledo engano. Ele honestíssimo abriu o jogo. Era isso ou nada. Ela topou. Só que um belo dia, sem mais nem menos, foi deixando-o cada vez mais só. Assim, sem explicação nenhuma. Ele esperou. E nada. Convidou-a meia dúzia de vezes para isso ou aquilo e apenas desculpas escusas apareciam: muito trabalho, cansaço, aquelas coisas que dizemos quando não estamos mais a fim. Ele respeitou e ficou quieto no seu canto. Mas por dentro pensava em como as pessoas são covardes. E depois reclamam que o que falta é “conversa”. Conversa uma ova! Pediu outro chopp, quase batendo no garçom. Outro dia andando pela rua, ela passou, esfuziante em sua direção. Tarde demais para fingir que não viu. “Olá meu bem, que saudades!” E veio para abraçá-lo. Ele quase deu um passo para esquivar-se. Deu o abraço como quem abraça uma múmia: “Você sumiu...” Ao que ela respondeu ainda mais esfuziante: “Imagina! Que saudades! Vamos tomar um café?” E o arrastou pelo braço para um boteco ali perto. Sentaram. Ela abriu seu laptop e ao mesmo tempo em que falava com ele conferia os emails. “Além de tudo sem educação” – pensava ele. E ela contava as novidades dela, suas viagens, seu trabalho novo e ele ali, mudo, concordando com a cabeça vez ou outra e pensando que desta vez iria até o fim. Ouvia, e ela pediu um café, dois, uma água e a conversa parecia interminável. Até que contrariando o script masculino, ele disse: “Pois é, e quando você vai perguntar sobre mim?” – Ela lançou um olhar incrédulo, esboçou um sorriso amarelo e sem graça murmurou: “Estou me sentindo ridícula...” – Ele descascou: “Ridículo sou eu, aqui te ouvindo depois de meses sem ter notícias, apesar de meus convites todos recusados por você. As coisas não são assim. Não podemos sair por aí ignorando pessoas, fazendo o que bem entendemos do jeito que escolhemos e depois voltarmos, como se nada houvesse! Não te vi ontem, nem semana passada, há meses não te vejo! Mas até neste momento seu laptop parece ter mais importância... As coisas não são assim tão fáceis! Consideração, você sabe o que é isso? Claro que não, daí seu sentimento ridículo! Ela ouvia incrédula. Em nenhum momento havia lhe passado pela cabeça que ele pudesse ter ficado maguado. E ficara. Ela disse que precisava ir. Ele agradeceu o café e sem se levantar se despediu dela. Ela pediu um abraço, ele a olhou com desdém. Abraço? Terceiro chopp. Não conseguia ainda acreditar que ela pudesse ter sido assim, tão egoísta a ponto de fingir que nada acontecera. Lembrou do primeiro aperto de mão. Por que não escutara a voz de seu coração? Aprendera mais um pouco, infelizmente se decepcionando no final da história. Divagava quando um amigo apareceu. Cumprimentos de praxe e o outro pede um chopp e com grandes olheiras começa a falar: “Sabe a Diva que eu tava saindo? Pois é cara, pediu as contas do emprego, disse que tava em depressão e se mandou com uma amiga para espairecer, foi viajar!!! Isso faz um mês. Agora há pouco me liga do nada e diz: “E aí, tá a fim de programar alguma coisa pro feriado? Tô com uma saudade...” – Cara!!! Desliguei na cara dela! Como pode? A mulher some e depois quer colo??? – Ele chamou o garçom, pediu uma porção de fritas e disse: “Pessoas que não se importam com o sentimento das outras... Epidemia?”

2 comentários:

Cara de 30 disse...

Tem gente louca assim na vida real... Eu já passei por isso. E quando vi o tamanho da encrenca onde tinha me enfiado tratei de desamarrar o meu burrinho e seguir caminho nessa estrada. Acontece nas melhores famílias, certo?! ;)

O Gato de Cheshire disse...

É... engraçado, né...
Pk as pessoas acham que as outras devem andar no passo delas???
Ele achava que o que ela queria era demais... Ela achava que o que ele queria era de menos... Acabou se afastando... Oras... Não teve briga, não teve confusão, não teve estresse... Uma vez compreendida a situação, respeitou e simplesmente se afastou... Sem choro nem vela....

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