terça-feira, 9 de setembro de 2008

FIM

Eles se conheceram por acaso, na saída de um café. Ele vinha entrando, ela saindo, segurando a bolsa e o casaco numa das mãos e atendendo/equilibrando o celular - como só bem sabem fazer as mulheres – com a outra mão enquanto abria a porta. O celular escorregou, ela se atrapalhou com a porta, ele rápido e solícito se baixou para pegar. Os dois deram uma cabeçada e como acontece nesses momentos insólitos, o olhar de ambos se cruzou. Não foi amor a primeira vista, mas algo estremeceu dentro de ambos. Riram da situação mais para disfarçar o coração aos pulos do que do fato em si. Ele a ajudou a apanhar as coisas que haviam se esparramado pelo chão depois da cabeçada e resolveram entrar para não atrapalhar anda mais quem estava tentando entrar/sair. Sentaram rindo ainda e ele sagaz pediu dois cafés. Ela riu e aceitou sem dizer palavra. Os cafés chegaram, eles comentando como as coisas acontecem, qual seu nome, o que você faz, mais uma água e outro café e se passaram duas horas. Ele esqueceu o compromisso, ela a aula de yoga. Trocaram telefones, ele a acompanhou até a saída, não quis parecer indelicado se intrometendo muito logo na primeira vez. Ela caminhou sorrindo para si mesma até o carro estacionado ali perto. Ele foi a pé com a sensação de caminhar na areia num domingo de Sol. Seis meses depois estavam morando juntos. Planos, trabalho, carreira, viagens, amigos, tudo ficou em suspensão em algum lugar do Universo. Agora só existiam ele e ela. Mais seis meses se passaram, sorrisos, transas memoráveis, praia, Sol, aluguel pra pagar, fondue, vinho, queijo, pão. Um dia, sem mais nem menos ele diz que vai embora. Não, ela não fez nada, ele gosta dela, mas acha que não dá mais, os dois tem objetivos diferentes, não, não dá pra recomeçar, ele não quer, quer viver mais – com ela não era possível fazer isso. Ela chora, implora, chora, pede, fica com raiva, joga as coisas dele porta afora, ele sorri triste, junta as tralhas jogadas, diz que vem buscar o resto qualquer dia e sem se virar, sai pela porta. Ela fica imaginando que ele tem outra, que ela é feia, que ele não presta. Liga pra melhor amiga, desabafa, ouve o clássico “os homens são todos iguais”, resolve desligar. Abre a geladeira, toma um porre de licor de menta e cai debaixo da água fria do chuveiro para se convencer que não está tendo um pesadelo. Os dias passam, insônia, falta de apetite, enjôo, nenhum telefonema, nenhum recado no trabalho. Fuça o Orkut dele e descobre que ele o deletou. Sem pistas, os amigos em comum se esquivando, ninguém quer se meter. Como tudo foi acabar tão de repente? Esquece que só a morte faz com alguns acreditem que as coisas acabem assim, de repente. Mas até mesmo ela manda seus recados subliminares. “O fim do amor, oh, não! Alguma dor talvez sim, porque a luz nasce da escuridão.” Promete a si mesma que a partir dali não mais se esconderá de si mesma. Só assim para aprender a enxergar o começo do fim e conseguir talvez, evitá-lo.

Um comentário:

Anônimo disse...

ADOREI.......... beijinhos Ju

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