Fui assistir ao documentário sobre a vida do Wilson Simonal, pai do Max de Castro e do Simoninha. Para quem não sabe, Simonal teve seu apogeu nos anos sessenta, setenta. Levantava multidões, era o “Rei do Swing”, cantou com Sarah Vaughan, fez em média trezentos e sessenta shows por ano, o que naquela época era pra raros e bons. Ainda hoje cantamos sucessos como “Sá Marina”, “Meu limão, meu limoeiro”, a regravação de “Moro num país tropical”, “Vesti Azul” e tantas outras canções. De repente falar de Wilson Simonal virou um tabu. Seus discos foram retirados de circulação, seus shows foram cancelados e ele foi acusado de ser “dedo-duro” da direita numa época em que a ditadura imperava. Tal acusação o levou a um ostracismo que durou mais de vinte anos, sendo culminado pela depressão e o alcoolismo que o levou a morte. Ao término do filme a platéia do cinema aplaudiu em pé. Em meio às lágrimas e aos aplausos, fiquei pensando em como a vida desse cantor, dessa pessoa foi devastada pelos boatos. Ao provar sua inocência, vinte anos depois, o tempo já havia passado. Impossível não pensarmos em nossa própria vida quando vemos um ser humano ser injustiçado, denegrido, discriminado até mesmo por aqueles que se diziam seus amigos. O documentário brilhante, feito pelo Cláudio Manoel do “Casseta e Planeta” nos faz pensar na crueldade humana. Nos faz lembrar que a “ditadura” não foi nenhuma “DITABRANDA” como escreveu aquele jornalista, mas tempos que deveríamos agradecer por não voltarem mais, nunca mais. Sem dúvida não poderíamos estar aqui, agora, escrevendo livremente num blog, fazendo amigos, desabafando, vivendo. Embora na época eu não tivesse a menor idéia do que estivesse acontecendo, lembro de que na escola, além da professora estar nos ensinando como escrever “Emilio Garrastazu Médici” (Presidente do Brasil na época), tenho vagas lembranças da Copa de 70 ao som de “Moro num País tropical”, regravada por ele. Para quem era apenas uma criança como eu, para quem viveu esses anos tão tristes, vale a descoberta desse cantor cheio de swing, valem as músicas, vale para sabermos um pouco mais sobre nossa história. E sobretudo para repensarmos também a condição humana.
6 comentários:
Quero ver, deve ser bem interessante.
A ditadura foi um dos episódios tristes da nossa história...
Beijocas
Carla,
a história dele é o retrato mais fiel daquela época tão cinzenta.
Aliás, penso que ser bom, sob qualquer aspecto, pode trazer (além do sucesso) a inveja.
E se não tivermos a força necessária para superar isso tudo, viveremos à mingua de sonhos e morreremos nos boatos.
Exatamente como ele.
Bjs (e muuuuuitas saudades),
Andréa
"Nem vem que não tem
Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa
Esquenta o ferro, passa minha roupa
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar
Sacudim, sacundá, sacundim, gundim, gundá!
Nem vem que não tem
Nem vem de escada que o incêndio é no porão
Tira o tamanco, tem sinteco no chão
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar
Sacudim, sacundá, sacundim, gundim, gundá!
Nem vem, numa casa de caboclo, já disseram
Um é pouco, dois é bom, três é demais!
Nem vem, guarda seu lugar na fila
Todo homem que vacila, a mulher passa pra trás!
Nem vem que não tem
Pra virar cinza minha brasa demora!
Michô meu papo, mas já vamos'imbora!
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar
Sacudim, sacundá, sacundim, gundim, gundá"
A simples idéia de um " retorno da censura" me apavora...
Bjão Carla
De certa forma na ditadura foi onde mais se fizeram por esse pais, construindo estradas, revelando cantores e artistas, movimentando um campo vasto das artes, e por se ter que pensar antes de escrever havia musicas boas...
Não sou partidário de uma ditadura forte, mas acredito que ainda não sabemos viver em um regime totalmente livre...Embora houve muitas injustiças naquela época, nada comparada com as de hoje.
E todos aqueles que roubaram e badernavam naquela época, hoje tomam conta do poder, fazendo oque vemos todos os dias nos noticiarios. Uma pena.
Besos
Muito bem lembrado Carla, a história de Wilson Simonal é um grande exemplo de como uma calúnia pode arruinar com a reputação, e, por conseguinte, uma vida inteira. E pior, sem ter chance de retratação. Soube da história dele uns anos atrás, primeiro numa entrevista de Chico Anísio e depois numa entrevista de seu outro filho, o bom compositor Max de Castro. O documentário ainda não chegou aqui em minha província, não vejo a hora de assistir.
Voltei a vida intelectual depois de um longo e tenebroso inverno de trabalho e estudo. Retornei com um poema para ser apedrejado.
Quando tiver um tempo, apareça.
Bjo
Sabe Carla que às vezes eu me pergunto se desfrutamos mesmo de tanta liberdade?
Dependemos mesmo da imprensa - porque o Hugo e seus "companheiros" estão sempre de olho - bem grande...
bjnhs
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