segunda-feira, 18 de outubro de 2010

PELA ETERNIDADE

    

    Por estes dias fui a um cemitério levar umas flores. Apesar de espírita que sou, prometi em vida levar flores ao túmulo de uma pessoa que me pediu e assim faço.
   Por estarmos próximos dos finados, o movimento do cemitério é diferente. A administração corta a grama, (é um daqueles que não possuem lápides, nem túmulos), ajeita as placas indicativas, rega as flores dos jardins que o cercam, etc.
  Após ter feito minhas orações, sentei num banco, embaixo de uma pitangueira e fiquei escutando o silêncio, a famosa "paz de cemitério".
   Algum tempo depois, minha atenção se voltou a uma pessoa, sentada na grama, com um guarda chuva aberto para a proteger do Sol, arrumando flores em determinada sepultura. Com o maior cuidado deste mundo, a mulher tirava as flores uma a uma da sacola e ia monstando um "ikebana" colorido, com muito cuidado. Terminado este, passou a fazer mais dois, com calma, separando as pétalas, arrumando o laço que as unia, ajeitando com carinho dentro de um cachepot. Quando achava que não estava bom, desmanchava tudo e começava novamente. Distante dela, embaixo de uma árvore enorme, um casal parecia discutir. Pensei: "Nossa, discutir  a relação no cemitério?"
    A mulher que já tinha certa idade, teve dificuldades para se levantar sozinha do chão onde estivera sentada durante todo o tempo que montava as ikebanas. Soltou o guarda chuva para se apoiar melhor e o vento ameaçou leva-lo. Se esticou toda, num esforço v´sivel para que isso não acontecesse e conseguiu pega-lo, não sem antes derrubar um dos arranjos.
    Sem demonstrar frustração nem enfado, ajoelhou-se novamente e começou a montar novo arranjo. Levantou-se com mais cuidado, arrumou os arranjos graciosamente na grama, onde o colorido das flores dava uma certa alegria aquele pedaço de chão. Ao pousar cada um no chão, beijava antes as flores, lhes fazia um carinho e colocava-as cuidadosamente na sepultura. De pé, vi de longe que fazia uma oração. Mas não parecia uma oração qualquer, porque em meio as palavras, fazia um carinho em cada arranjo como a se despedir.
    Pensei: "Muita gente não conversa nem com os vivos, quanto mais fazer carinho..."
    Ela fechou o guarda chuva, guardou todos os apetrechos que trouxera e chamou o casal que discutia ao longe embaixo da árvore para irem embora. Eles foram ao encontro dela, sem olhar para o trabalho que ela havia feito, caminharam até o carro.
    A mulher por sua vez, antes de entrar no carro, virou-se mais uma vez e lançou no ar um beijo.
    Mais uma vez tive a prova de que realmente o amor não tem nenhuma barreira, nem tempo para ser vivido.

2 comentários:

Cris Medeiros disse...

Realmente muito bonita essa cena! Eu ainda acredito no ser humano, apesar de tantas decepções e de perceber que somos capazes de atitudes muito ruins. Mas o amor, seja de que tipo for sempre é o que nos melhora.

Beijocas

ML disse...

Nossa, que lindo, apesar de triste, né?

Lá em Petrópolis (minha cidade) o cemitério é tido como perigoso pq tem assalto à beça.

Mas no dia de Finados é diferente e espero ir até lá este ano prestar minha homenagem a quem amo de paixão - sei que é uma "irracionalidade", mas...

bjnhs

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