Muito se fala em perdão. E pouco se perdoa por aí.
Ultimamente esse assunto tem sido presença constante em meus dias. Talvez seja a época do ano que se aproxima e uma grande maioria de pessoas se dá conta do que perdeu o ano todo...
Também se fala “perdôo, mas não esqueço...” Ora, então não perdoou, oras bolas...
Ouvi certa vez que perdoar não é convidar o inimigo ou a pessoa que nos fez mal para tomar café em nossa casa; é simplesmente não desejar o mal. Isso parece fácil, mas não é. O pensamento é uma arma poderosa que apontamos para nós mesmos. O simples fato de pensarmos o mal para alguém – “ah, tomara que fulano caia de cabeça...” – é humano, mas atrai para nós uma vibração desnecessária. Algumas pessoas vivem assim, desejando que os outros não possam ir pra frente, não se desenvolvam... Não percebem que além de desejarem mal, ainda estão sendo corroídas pela inveja... E ainda tem quem fale “ah, mas é inveja boa”, ou “o que senti foi inveja branca” ??!!!??? Inveja é inveja e não é boa, muito menos colorida. O contrário disso é admiração e isso sim, é um sentimento bom.
Peguei um táxi esta semana e lá pelas tantas o taxista começou a me contar que tem pensado muito num ex-patrão dele, uma das pessoas a quem ele mais amou nessa vida. Há trinta anos brigaram e nunca mais se falaram. Naquela época o taxista era motorista do tal patrão e um dia, após ter passado a manhã e o começo da tarde resolvendo coisas para o patrão, ao chegar ao trabalho, ainda no carro, viu o mesmo parado na porta do estabelecimento, esperando-o. Como estava com muita fome, (só havia tomado o café pela manhã e mais nada), fez de conta que não viu e estacionou o carro perto da lanchonete que freqüentava. Só que o atendimento demorou cerca de meia hora e quando ele voltou ao trabalho, o patrão estava fulo da vida. Discutiram e o patrão o mandou embora, depois de anos juntos. Nunca mais se viram ou se falaram.
O taxista contou que o estabelecimento nem existe mais, mas que o desejo de pedir perdão aquele que ele tanto amava e serviu, permanece. Isso me foi contado com muita emoção e lágrimas nos olhos do pobre homem.
Contei a ele então, da técnica de Ho'oponopono. Podemos pedir perdão em pensamento, sempre que nosso coração mandar. “Pedir perdão?” Mas como se não fui eu que errei? Ora, isso é o que achamos, mesmo que tenhamos razão. Mas, muitas vezes o que acontece é que o outro lado acha que o erro é nosso, por sua incapacidade de olhar a si mesmo. Cabe então a nós, pedirmos perdão também, caso alguma coisa ou ato tenha sido mal interpretada. E mais: dizer que amamos aquela pessoa e que sentimos muito... Fácil? Mas quem disse que seria? E estamos falando de fazer isso em pensamento, porque muitas vezes os envolvidos nem fazem mais parte deste mundo...
O homem chorou. E eu ali, no silencio do transito pesado de São Paulo, vibrando para que ele tivesse forças. E após um tempo onde ele pode lavar a alma, disse pra mim: “Sabe? Amanhã mesmo vou procurá-lo. Não adianta carregar isso a vida toda. Vou falar com ele sobre o amor que lhe dediquei como empregado durante dez anos. Isso talvez ainda sirva para alguma coisa...”
Eu o apoiei e disse para não desistir de amar, já que ele guardou isso durante trinta anos. E reforcei seu pensamento dizendo que ele guardou amor e sofria, mas estava bem melhor que aqueles que guardam ódio e acreditam ter a verdade.
Um comentário:
Que lindo, Carlinha!
Eu sou o tipo de "cliente" que torce para que motoristas de taxi não puxem conversa, adoro entrar muda e sair calada, mas devo estar perdendo muitas lições de vida.
Já este motorista... foi ele quem ganhou com a cliente "cabeça boa", aliás, ótima.
bjnhs
Luv e ótima semana, querida!
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