quarta-feira, 8 de outubro de 2008

FALA QUE EU TE ESCUTO

Às vezes penso que tenho uma placa invisível pendurada em algum lugar onde está escrito algo do tipo “FALA QUE EU TE ESCUTO”. Outro dia peguei um táxi para ir ao hospital – sofri um pequeno acidente que me obriga a usar uma bota moderníssima ao invés do antigo gesso. Ao ouvir a palavra “hospital” o motorista do táxi logo perguntou o que tinha acontecido comigo ou se eu ia visitar alguém. Respondi rapidamente, sem dar maiores detalhes e ele logo começou a me contar sobre seu pai doente, acamado em casa, e que depois de dirigir 14, 15h por dia, ele (o motorista) encarava a rotina de cuidar do pai, trocá-lo, dar comida e todos os cuidados necessários. Quando o elogiei pela disposição e coração, ele disse que o pai não havia feito nada por ele, que abandonara a família quando ele era apenas uma criança e por aí afora. O elogiei então pelo gesto e ele rapidamente me disse: “Não é bom coração não, é obrigação com um ser humano...” Hoje, enquanto aguardava sentada minha vez numa fila daquelas preferenciais para grávidas, idosos, deficientes e acidentados de modo geral, dei licença para um funcionário arrumar algumas coisas que estavam entre eu e uma prateleira ao lado. Ele agradecido me perguntou o que havia acontecido. Eu mais uma vez expliquei resumidamente. Ele começou a me contar sobre seu filho, hoje com 22 anos, mas que aos doze havia contraído uma doença raríssima que o impediu de andar por cinco anos. Ao final do relato onde o cumprimentei pela fé e perseverança, além do orgulho que visivelmente demonstrava pelo filho – hoje um pesquisador – ele me abraçou e agradeceu por eu tê-lo ouvido, estimando meu pronto restabelecimento. Sabem o que eu acho? Falta amor por aí. Muitos se envergonham de pedir colinho, de falar sobre suas dores, detalhes tão pequenos de nós dois, três, quatro e num dado momento, só restam mesmo os desconhecidos. Não reclamo não, porque acredito que as coisas só aparecem quando estamos prontos pra elas, embora nem sempre acreditemos nisso.

2 comentários:

Rafael disse...

Eu penso que falta amor sim...até mesmo ao próprio amor.

Falo assim porque vejo amor hoje como algo muito aquém do que realmente significa. E não acredito em amor que se vende, em amor pela metade, nem em híbridos do tipo...Amor é o tipo de sentir que ou é, ou não é. E que disfarçado, não dá...

Cris Medeiros disse...

O mundo está cada vez mais corrido e ninguém tem muito tempo, ou não quer dar tempo para os outros...

Eu tenho a "sindrome de sacerdote" todo mundo me procura quando tá mal e me esquece quando tá bem... Ainda não me acostumei com isso, mas to fazendo algo para deixar de ser orelhão dos outros... tudo tem um limite... rs

Beijos

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