quarta-feira, 4 de março de 2009

BLÁBLÁBLÁ

Ficava pensando naquela mania dela de não parar de falar. Horas a fio, os mais improváveis assuntos e o que é pior: ela nunca tinha defeitos, só os outros. Eles é que eram sempre maus e cruéis, cometendo toda sorte de injustiças contra ela, pobre vítima. Em seu segundo casamento recém terminado, havia adotado aquele discurso sacal de que nenhum home vale nada, são todos uns cafajestes, só querem se dar bem. E ele ali, como bom amigo, continuava ouvindo. Gostava de ver até onde as pessoas chegavam. Ela, sua amiga desde a infância, continuava adolescente. De Balzac nem ouvira falar, mas já pertencia ao adjetivo. Achava leitura, “papos-cabeça”, política, artes, assuntos para quem não tem o que fazer. Herdeira, dizia que a vida era pra se viver, mas caía em contradição quando passava longos períodos isolada, trancada em casa, se dizendo em “depressão”. Ele pensava: “Isso sim, era falta do que fazer...” Saía com alguns homens sempre achando que com este ou aquele agora, seria diferente. Mas ela continuava a mesma. Ele pensava: “Como esperar de alguém aquilo que nem você mesmo consegue mudar?” Difícil. Mais difícil ainda é esperar dos outros aquilo que desejo. Mas ela se iludia, vivia pra cima e pra baixo com as amigas que gastavam tanto no shopping quanto ela, que caiam de bêbadas após a balada ou terminavam na casa de alguém que no dia seguinte, mal sabiam o nome. O último relacionamento havia durado mais do que qualquer um acreditava: seis anos. Ele, engenheiro bem-sucedido, logo percebeu a futilidade que o cercava. Tentou ter filhos, mas ela rapidamente saiu pela tangente: “Ainda não amor, vamos aproveitar mais a vida...” O engenheiro agradeceu o gesto quando o casamento chegou ao fim; talvez fosse mais um pra ficar na vida sem fazer nada e se achando o máximo. Ele, pelo menos não teria participação nesse legado para o mundo. O amigo a amparou, lhe deu o ombro, os lenços, as noites mal-dormidas quando o telefone tocava de madrugada para consolá-la. Os dias passavam e ela sozinha. Os anos passavam e ela sozinha. Ninguém agüentava mais a falação, a mania de contar vantagens, de querer se dar bem em tudo nesta vida. Por que ele ainda a aturava? Tinha medo da resposta, mas seu coração já denunciara: pena. E achando que esse é um sentimento ainda pior que o ódio, continuava ouvindo calado, porque ao final não adiantava discutir, ela achava que sempre tinha razão.

5 comentários:

Cara de 30 disse...

Pois é... Eu costumo dizer que pena é o pior dos sentimentos mas não se se isso é um sentimento. Pena é tristeza na alma, desamparo e sofridão. Pena é uma conjunção de sentimentos... Se isso puder ser considerado um único deles, então que seja.

Pena que o "relacionamento de amizade" entre estes dois indivíduos também esteja condenado.

Cris Medeiros disse...

Pessoas que sempre tem razão em tudo. Conheço várias e tento não ficar assim. Deus permita que eu nunca fique assim!

Beijocas

Cara de 30 disse...

Amiga, pega mais um selo pra você lá no meu espaço, tá?! :)

Cris Animal disse...

Retom,ando meu blog depois de uns dias longe......rs


Esse sentimento é muito destrutivo, alienado. É como vc tentar de tudo e não receber resposta. Alienação da alma, do espírito. Faz perder o tempo, as chances, a esperança, a força de lutar e vencer....que pena!......ow ow

Beijo grande pra vc !
...............Cris Animal

Cami disse...

Karla!
Já conheci gente assim.
É fudido conviver com pessoas que acredita ter sempre a razão.

Conheci uma assim que, além disso, é uma puta de uma falsa, mentirosa e venenosa.

Ai, ai, me arrepia só de lembrar.

Beijoconas!

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