domingo, 14 de setembro de 2008

DEPOIS DO FIM

Ela acreditou que depois dele nada valeria à pena.
E nem ninguém.
Durante meses a fio, chorou, bebeu, chorou mais, lastimou, blasfemou, jurou em vão, amaldiçoou, fez tudo o que aqueles que perdem um amor geralmente fazem. Sexo? Nem pensar. Só ele sabia todos os segredos de seu corpo e as vontades de sua alma. Procurar outro? Inimaginável. Ninguém poderia ocupar o lugar guardado há anos só pra ele. Casamento? Nunca mais. Todos os seus sonhos, segredos, planos, desejos, só podiam ser compartilhados com ele, afinal ele era o homem de sua vida, até a morte. A pergunta ainda ecoava todos os dias em seus pensamentos e o que é pior: em seu coração: por que ele a havia deixado? Ninguém sabia, nem ela. Ele dizia que só queria estar sozinho novamente. Só, em todos os sentidos. Os meses passaram e ela comprovou que ele continuava sozinho. Será que tinha descoberto que era gay? Sim, porque o amor dela era incondicional, então como ser abandonada assim, sem mais nem menos? As horas foram passando após o fim, os dias, os meses, o ano. Um belo dia ele a procurou dizendo que já que estava por perto, gostaria de devolver algumas fotos que haviam ficado com ele e que poderiam ser importantes para ela. Combinado o horário, ela aguardou sem expectativa, mas não percebeu. Ele chegou, cumprimentaram-se, sentaram, ele mostrou as fotos, ela olhou sem interesse, agradeceu, devolveu a ele a única que havia restado de seus ataques de fúria – as outras todas tinham sido rasgadas ou incineradas – essa havia ficado entre as páginas de um livro, esquecida. Ouviu as mesmas histórias, a mesma risada que tanto havia amado, e foi aí que caiu em si. Não sentia mais nada. Olhou para ele atentamente enquanto ouvia e viu um homem diferente daquele que havia sido seu grande amor. Como se ele nunca tivesse feito parte do mundo dela. Olheiras, um corpo um tanto esquálido, um papo chato – daqueles que alguns homens apostam que irão impressionar alguém – e percebeu o quanto havia sido cega. Levantou-se de repente, disse que tinha um compromisso, precisava ir, agradeceu as fotos, ele perguntou quando a veria novamente e ela rápida: “Qualquer dia quem sabe nos encontramos por aí” – querendo se livrar logo daquele incômodo. Ele meio sem graça agradeceu a única foto, disse um “Te ligo” e ressabiado caminhou pela calçada, olhando para trás duas vezes. Ela já havia sumido. Minutos após estava em sua casa, em frente ao espelho dizendo pra si mesma: “Estou viva e tenho a vida inteira pela frente!” E essa descoberta teve o mesmo efeito de uma bomba em seu passado. Atômica.

4 comentários:

Vero Kraemer disse...

MARAVILHOSO!!! Quando as coisas mudam, mas a gente precisa ver para entender...já passei por isto, muito lindo mesmo!!!
BEIJÃO

Anônimo disse...

Não conhecia o seu lado contista. Adorei! Quero ler mais...
bjs,
Sérgio

Robson Schneider disse...

Sabe Carla, acho que esse é o problema dos amantes... eles custam a perceber que ninguem é de fato substituível... mas por outro lado só a gente é insubstituivel pra gente mesmo.
Bj

Cris Medeiros disse...

Conversando com o Robson ele me mostrou esse post seu! Achei super bem escrito e já passei por uma situação muito parecida! Já te coloquei na minha lista pra voltar aqui!

Beijos

Powered By Blogger